Igreja e Museu da Misericórdia

O Museu da Misericórdia de Cascais, que também integra a igreja da irmandade, proporciona aos visitantes uma viagem inesquecível por quase 500 anos de história ao serviço da comunidade.

A Santa Casa da Misericórdia de Cascais, fundada em 1551, instalou-se na Ermida de Santo André, que no ano de 1575 já considerava sua, mandando executar em 1590 um retábulo atribuído a Cristóvão Vaz de que subsistem quatro tábuas, atualmente em exibição no Museu.

A destruição provocada pelo terramoto de 1755 conduziria, entre 1759 e 1781, à edificação de uma nova Igreja da Misericórdia, de gosto neoclássico, marcado pelo frontão curvo interrompido que encima a entrada principal. Contudo, por dificuldades financeiras, a obra não seria concluída, nomeadamente ao nível do remate da frontaria e das torres sineiras, que em 2022 viriam a ser intervencionadas e dotadas de um novo sino.

Igreja da Misericórdia

O templo, de uma só nave com teto abobado, dispõe de duas capelas laterais em arco de volta perfeita. A capela do lado do Evangelho, mandada construir em 1700, é dedicada ao Senhor dos Passos. Na capela-mor, adornada por pintura marmoreada e coberta por abóboda de lunetas e de berço, destaca-se a imagem da padroeira da irmandade: Nossa Senhora dos Anjos, escultura em madeira policromada dos finais do século XVII. O coro alto, construído para que alguns fiéis pudessem assistir à missa isoladamente, apresenta um perfil contracurvado e uma balaustrada em pedra, apoiando-se em estípites.

Na antiga sacristia da igreja, presentemente integrada no Museu da Misericórdia de Cascais, celebrou-se o culto nos anos que se sucederam ao terramoto de 1755, até à conclusão do novo templo, em 1781. Ao centro do seu belíssimo teto pintado representa-se o brasão da Misericórdia de Cascais, ladeado por seis almofadas, de moldura saliente, onde se inscreve dupla reserva de motivos rocaille, ornamentações caraterísticas do terceiro quartel do século XVIII.

O património que se preserva e exibe no Museu está intimamente ligado ao culto religioso, sendo sobretudo constituído por escultura, pintura, ourivesaria, cerâmica e paramentaria.

Entre as peças em exibição na antiga sacristia destacam-se as imagens de Nossa Senhora e de diversos santos, assim como crucifixos, nomeadamente de produção indo-portuguesa, dos séculos XVII a XVIII.

Na área consagrada aos tesouros da Misericórdia exibem-se custódias e cálices maioritariamente em prata dourada, do final do século XVI ao século XVIII. Entre estas peças urge realçar uma excecional custódia portuguesa do final do século XVI ou início do século XVII e o conjunto de coroas e resplendores em prata, também de produção nacional, dos séculos XVIII e XIX.

No núcleo sobre pintura, para além das quatro tábuas do primitivo retábulo-mor da Igreja da Misericórdia, executadas em 1590, destacam-se as insígnias da Procissão das Endoenças, de grande efeito cenográfico e fortes contrastes cromáticos que refletem as produções pictóricas maneiristas do século XVII.

Na área dedicada aos paramentos e objetos do culto e de procissões realçam-se o simbolismo e funções de peças que atestam a riqueza da coleção da Misericórdia, enfatizando o apoio que a arte foi prestando à religião ao longo dos séculos.

O inventário das peças em exibição está disponível em Bens Culturais de Cascais.